A IMPORTÂNCIA de preservar o legado do 25 de Abril na Democracia Portuguesa
A memória do 25 de abril, símbolo da liberdade e da emancipação social em Portugal, é hoje um pilar incontornável do regime democrático. Contudo, nos últimos tempos, alguns setores têm promovido uma interpretação que procura relativizar as conquistas desse momento histórico, colocando o 25 de novembro ao mesmo nível do 25 de abril. Embora o 25 de novembro tenha sido importante para a consolidação democrática, o 25 de abril marca, de forma inquestionável, o ponto de viragem para a construção de uma sociedade mais livre e igualitária. Equiparar as duas datas não só distorce o entendimento do processo histórico, como pode também enfraquecer os valores fundadores do regime democrático.
As transformações sociais e políticas desencadeadas pelo 25 de abril – incluindo o reforço dos direitos laborais e o acesso universal à educação e à saúde – foram passos decisivos que marcaram o país e lhe conferiram o rumo de progresso social e político. Estes avanços não representam apenas conquistas do passado, mas constituem, ainda hoje, pilares ativos de uma democracia que deve ser dinâmica, inclusiva e orientada para a justiça social. A Constituição, nascida desse momento revolucionário, assenta sobre valores que privilegiam o bem-estar coletivo e a proteção dos mais desfavorecidos. Os princípios que fundamentam os direitos e deveres sociais estabelecidos em 1976 não devem ser desconsiderados sob o pretexto de reinterpretações históricas que favoreçam, direta ou indiretamente, agendas políticas menos comprometidas com a justiça social e o bem comum.
É verdade que o contexto nacional e internacional evoluiu muito desde a década de 1970, e não se nega que o 25 de novembro desempenhou um papel relevante na estabilização da jovem democracia portuguesa. No entanto, colocar as duas datas em pé de igualdade representa uma manobra que, ao diluir o impacto e o significado do 25 de abril, subvaloriza o compromisso com uma democracia participativa e com políticas orientadas para a igualdade e a solidariedade social.
A tentativa de conferir protagonismo excessivo ao 25 de novembro revela, assim, um movimento que visa minimizar o impacto das conquistas revolucionárias e revisitar a ordem democrática de uma perspetiva que pode favorecer uma visão individualista e economicista do Estado. Este esforço para reescrever o passado não se limita a uma questão de memória; representa, acima de tudo, uma ameaça à democracia construída com o esforço e o sacrifício de muitos. A preservação do espírito do 25 de abril e dos seus valores fundamentais é essencial para garantir que a liberdade, a justiça social e a igualdade de oportunidades permanecem no centro das escolhas políticas e sociais do país.
Assim, para preservar e aprofundar a democracia, é necessário honrar o 25 de abril não apenas como um marco do passado, mas como um guia para o futuro. Reconhecer a importância das suas conquistas e assegurar que os seus princípios de igualdade e justiça social permanecem centrais na vida pública são compromissos que devem transcender agendas de curto prazo. A democracia portuguesa precisa desta memória ativa e crítica, que não se esgota na comemoração anual, mas vive nas escolhas diárias, orientando o futuro com base nos valores que construíram uma sociedade livre e inclusiva.
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