8 de October, 2024
A RENTRÉE política, início do ano letivo e o uso de telemóveis na escola
Artigos de opinião

A RENTRÉE política, início do ano letivo e o uso de telemóveis na escola

Set 21, 2024

Com o início do ano político, surgem as promessas habituais.

As leviandades das promessas eleitorais da AD, nas anteriores eleições legislativas, tornaram o país pior. Na saúde e na educação, bem como noutras áreas, a única coisa que este governo tem feito é a exoneração de cargos dirigentes. Sem critério, sem estratégia, assistimos a uma “limpeza étnica” de altos cargos de chefia. Mas voltemos às promessas eleitorais da AD. O governo revela uma impreparação assustadora na sua capacidade de governar. E, quando surge um problema, a culpa é do governo anterior. Já assistimos a esta narrativa no passado recente, com um dos piores governos da história de Portugal, de 2011 a 2015. Todos os problemas do país eram atribuídos ao governo anterior. Sejamos sérios: os governos são eleitos para resolver problemas, não para se queixarem daquilo que encontram.

Com o início do ano letivo, surgem problemas que são estruturais e que não se resolvem de forma simplista ou populista, como a AD e o partido Chega pretendem, ao proporem soluções fáceis para problemas complexos.

Um dos temas que, na educação, devia ser debatido de forma séria é o uso de telemóveis nas escolas. Nos últimos anos, o uso de telemóveis nas escolas tem sido um tema amplamente debatido, polarizando opiniões entre educadores, pais e estudantes. À medida que a tecnologia se torna mais integrada nas nossas vidas, a questão que se coloca é: deverão os telemóveis ser permitidos no ambiente escolar? A resposta a esta pergunta exige uma análise cuidadosa dos seus potenciais benefícios e riscos, tanto no que concerne ao processo educativo, como às questões sociais e de saúde.

Em primeiro lugar, os defensores do uso de telemóveis nas escolas argumentam que estes dispositivos podem ser ferramentas valiosas para apoiar o ensino. O acesso imediato à internet permite que os alunos façam pesquisas em tempo real, complementando as explicações dos professores e fomentando uma aprendizagem mais autónoma e personalizada. Além disso, os telemóveis oferecem um vasto leque de aplicações educativas, desde dicionários até calculadoras, que facilitam o estudo e permitem que os alunos tenham mais controlo sobre o seu próprio processo de aprendizagem. Outra vantagem relevante é o papel que os telemóveis podem desempenhar em emergências, garantindo uma comunicação rápida e eficaz entre estudantes, professores e encarregados de educação, o que contribui para um ambiente escolar mais seguro.

No entanto, apesar dos benefícios apontados, há uma série de desvantagens que não podem ser ignoradas. Um dos principais problemas associados ao uso de telemóveis nas escolas é a distração que eles podem provocar. Com o fácil acesso a redes sociais, jogos e outras aplicações de entretenimento, muitos alunos tendem a desviar a atenção das aulas, prejudicando o seu desempenho académico. Este comportamento é particularmente preocupante, uma vez que pode comprometer a capacidade de concentração e a assimilação dos conteúdos. Além disso, a constante utilização de telemóveis pode reduzir as interações sociais presenciais, fomentando o isolamento entre os alunos, que muitas vezes preferem comunicar virtualmente em vez de estabelecer relações no contexto escolar. Esta tendência pode enfraquecer o desenvolvimento de competências sociais cruciais, como a empatia e a comunicação interpessoal.

Outra questão fundamental relaciona-se com os impactos na saúde. O uso prolongado de telemóveis, especialmente entre jovens, tem sido associado a problemas como a fadiga visual digital, que resulta da exposição prolongada aos ecrãs, causando cansaço ocular, dores de cabeça e dificuldades de concentração. Também há preocupações crescentes com os problemas posturais que podem advir do uso continuado de dispositivos móveis, uma vez que os alunos tendem a adotar posturas inadequadas durante longos períodos. A privação de sono é outro problema significativo: muitos estudantes utilizam os telemóveis à noite, o que interfere com a produção de melatonina e prejudica a qualidade do sono, resultando em cansaço e falta de concentração durante as aulas.

Adicionalmente, o uso de telemóveis nas escolas pode facilitar o cyberbullying, uma prática que tem vindo a aumentar nos últimos anos. A constante ligação às redes sociais pode expor os alunos a situações de humilhação ou perseguição por parte dos colegas, o que pode ter consequências graves na sua saúde mental, provocando ansiedade, depressão ou isolamento. Para além disso, a pressão social para estar constantemente online e corresponder a padrões de popularidade pode gerar altos níveis de stress, sobretudo entre os adolescentes.

Diante desta análise, é claro que o uso de telemóveis nas escolas apresenta tanto vantagens como desvantagens significativas. Se, por um lado, os telemóveis podem ser úteis no apoio ao ensino e na comunicação em emergências, por outro, o seu uso excessivo e descontrolado pode comprometer a aprendizagem, a saúde e o bem-estar dos alunos.

Em síntese, embora os telemóveis possam oferecer vantagens significativas no contexto educativo, como o acesso facilitado à informação e a comunicação rápida em emergências, os riscos associados à sua utilização nas escolas, tanto ao nível do desempenho académico como da saúde física e mental, não podem ser descurados. O desafio passa por encontrar um equilíbrio criterioso no uso destes dispositivos, através da implementação de políticas escolares que limitem o seu uso a contextos pedagógicos específicos e sensibilizem os alunos para a importância de uma utilização responsável. As escolas têm a responsabilidade de educar para um uso consciente da tecnologia, garantindo que esta sirva como um complemento à aprendizagem e não como um obstáculo ao desenvolvimento integral dos estudantes.

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