O MERCADO MUNICIPAL DE CASCAIS ENTRE 1892 E 1944
Para quem viva em Cascais, ou a Cascais se costuma deslocar regularmente, a ideia de mercado consumidor municipal associa-se exclusivamente ao moderno equipamento existente na Rua Padre Moisés da Silva, conhecido por Mercado da Vila.
Natural é que assim seja, pois esse edifício foi inaugurado em 9 de Agosto de 1952, ou seja, há quase setenta anos. Ao passo que aquele que aparece na fotografia do nosso bilhete-postal deixou de existir em 1944, no âmbito de uma verdadeira revolução urbana para permitir, nomeadamente, o alargamento da Avenida (agora, Alameda) dos Combatentes da Grande Guerra.
Desde cedo que à vila de Cascais se puseram complicados problemas de distribuição alimentar, uma vez que a sua constante e intensa expansão suscitou necessidades a que, espacialmente, foi sempre difícil dar resposta. E não nos esqueçamos de que, além do grande crescimento demográfico, Cascais esteve sempre no epicentro de copiosos centros de produção, quer de produtos hortícolas quer de peixe, e até de gado e produtos avícolas.
Em 1866 existia já, na Praça Nova (hoje, Praça Luís de Camões) um mercado diário que funcionava desde o nascer do Sol até à uma hora da tarde. Entretanto, a reconstrução das estradas que ligavam Cascais a Oeiras e Sintra geravam um afluxo crescente não só de consumidores como também de produtores interessados em escoar a sua produção.
Em 1867, o mercado já tinha transitado para a Praça Velha (hoje, Praça 5 de Outubro). Entretanto, a vinda da Corte e seus cortesãos para Cascais, e a inauguração do caminho de ferro representavam fatores de pressão adicionais sobre o comércio de bens essenciais e as necessidades de abastecimento da população.
Volvidos mais vinte anos, já se preparava a obra de lançamento de uma nova estrutura, feita em ferro e localizada junto à foz da Ribeira das Vinhas. Até à inauguração, em 1892, foram numerosas as soluções de improviso para garantir que os abastecimentos se continuassem a fazer com a normalidade possível.
A fotografia que apresentei a ilustrar esta publicação, em mais uma edição da AN Press, mostra a localização e o aspeto do chamado Mercado de Ferro, a oriente do Passeio do Rio, com uma área coberta que chegou a atingir os 800 metros quadrados
Os pescadores de sardinha e carapau foram desde o início autorizados a vender no areal da praia, mesmo defronte do Mercado.
Finalmente, a já referida obra de prolongamento da Avenida dos Combatentes da Grande Guerra ditou o fim desta grande estrutura metálica, cujos trabalhos de demolição se iniciaram a 17 de julho de 1944.
Seguiram-se penosos anos de soluções precárias, de mudanças e mais mudanças, passando, entre outras, pelo Jardim da Parada, até que o novo Mercado da Vila, previsto primeiramente para o Largo do Visconde da Luz, acabou na localização atual. Pelo meio, ficou toda uma história que está muito bem contada no livro de João Miguel Henriques “História(s) do(s) Mercado(s) de Cascais”, editado pela Câmara Municipal na Coleção Memórias Digitais de Cascais.
*NELSON FERNANDES recorda em Cascais24Horas duas vezes por semana factos e curiosidades que marcaram outrora Cascais e fazem parte da história de esta vila de reis e pescadores.
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