A história da Casa das Pedras
A Casa das Pedras, que remonta a 1903, é um edifício de habitação implantado nos terrenos da antiga Quinta do Moledo, na Parede. Encontra-se no topo de uma elevação de 23 metros sobre o mar. O nome da Quinta do Moledo, palavra relacionada com a abundância de pedra, é curiosamente adequado ao local de implantação da Casa das Pedras.
Os terrenos desta antiga quinta, hoje urbanizada, estendem-se a sul diante do mar, sobre a Praia das Avencas. Do lado oposto, na extremidade norte da quinta, passa ainda hoje a linha do comboio, a partir da qual se desenvolveu no início do século XX uma povoação estendida entre os carris ferroviários e a Avenida Marginal.
O projeto para a habitação foi encomendado a Nicola Bigaglia (um professor italiano que desenvolveu larga atividade na arquitetura em Portugal, nos primeiros anos do século XX), por Manuel de Azevedo Gomes, comandante e capitão-de-fragata português, próximo do Almirante Nunes da Mata, um dos impulsores da vila da Parede. Possui a particularidade de ter sido construída inteiramente com pedras recolhidas de praias próximas, sobretudo arenitos, basaltos e calcários com evidentes sinais de erosão marinha. É uma das mais representativas peças da arquitetura de veraneio de finais do romantismo no município de Cascais.
A casa foi construída ultrapassando em volumetria o projeto então aprovado. O edifício principal chega a ter quatro pisos no corpo mais elevado. As paredes são rasgadas por numerosos vãos, que aligeiram o seu aspeto pesado e maciço.
A nascente da habitação principal ergue-se uma pequena moradia destinada aos caseiros. O jardim, também um pouco agreste, está enquadrado por uma pequena mata. O cenário romântico, ao mesmo tempo agreste e grandioso, dos terrenos que se espraiam sobre as arribas da Parede conjuga-se com as opções estéticas do projeto, nem todas certamente atribuíveis à iniciativa livre do arquiteto.
Terá sido o proprietário a imaginar uma casa acastelada e inteiramente revestida com calhaus marítimos, que só a habilidade e experiência de Nicola Bigaglia , impediu que resultasse num colosso demasiado pesado e sombrio.
Para o conseguir, Bigaglia desmultiplicou o projeto numa sucessão de corpos articulados com distintas volumetrias, varandas e alpendres, e jogou com a variedade de desenhos dos vãos e de tamanhos e colorações das pedras de revestimento, que vão desde os pequenos seixos rolados até a pedras de grandes dimensões, muitas das quais exibem claramente os sinais de desgaste causado pela água salgada.
Esta arquitetura “bruta”, mas plena da fantasia tardo-romântica típica da época, é evocadora de cenários medievais e sugestões de mistério e nostalgia. O resultado final é uma arquitetura orgânica, onde a casa, semioculta, se parece revelar apenas onde se abrem vãos no monte de pedras.
A “Casa das Pedras”, foi classificada como Monumento de Interesse Público, de acordo com um despacho do ministro da Cultura, publicado em 03/06/2016 no “Diário da República”.
Situa-se na Rua Dr. Camilo Dionísio Álvares e na Avenida Marginal, na União das Freguesias de Carcavelos e Parede.
*NELSON FERNANDES recorda em Cascais24Horas duas vezes por semana factos e curiosidades que marcaram outrora Cascais e fazem parte da história de esta vila de reis e pescadores.
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