27 de December, 2024
A SENHORA do pão e bolinhos do Mercado de Cascais
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A SENHORA do pão e bolinhos do Mercado de Cascais

Nov 1, 2024

A Sra. Dª Maria do Carmo M. Jacinto Mendes, que nasceu em 1939, constitui um autêntico ícone no mercado de Cascais, onde há mais de 42 anos vende na sua banca pão e bolos deliciosos.

Quando veio sozinha de Celorico da Beira para Cascais andavam a acabar as obras que taparam a Ribeira das Vinhas e deram um novo rosto à vila.

Tinha 17 anos e ainda viveu o tempo em que nas procissões se forrava a rua com alecrim… casou e empregou-se a dias, mas ter um negócio “minava-lhe a ideia”.

Empreendedora, lançou-se a fazer pães-de-ló grandes que vendia nas casas vizinhas e “toneladas de rissóis, croquetes e pastéis de bacalhau”, chegando mesmo a vender bolas de Berlim nas praias da Conceição e da Duquesa.

Pouco depois, já lá vão mais de quarenta anos, montou banca no Mercado que “antes, tinha um lago, um chafariz, muitas árvores e…. muita gente”.

Havia, ainda, “muitos saloios que vinham a pé e de burro trazer a roupa da Malveira e da Azóia já lavadinha e levavam a suja para lavar mais”.

É assim que se recorda do Mercado da vila dos primeiros tempos.

A sua memória está repleta de vendedores: “Havia a vender perus por aqui fora, havia o leiteiro, o padeiro, os carteiros, os dos jornais a deitar os jornais para as varandas… Era outra vida”.

O peixe vinha do mar e quem “trazia os caixotes vinha a abaná-los de propósito, como quem não quer a coisa, para que caíssem alguns peixes de modo a que os pobres pudessem apanhar”.

Da zona envolvente recorda com saudade a solidariedade que sempre marcou Cascais: “Em frente era o Baía Velho e era aí ao pé, na areia, que os pobres faziam penas tecas (montinhos) com os peixes que apanhavam para vender e arranjar algum dinheiro para outras coisas”.

Hoje, com as ofertas de supermercados e outras superfícies, aliada ao decréscimo do poder de compra, o Mercado “tem menos procura e, consequentemente, menos oferta”, pois “desde há sete anos para cá que sentimos que as coisas se têm degradado muito.

Nós éramos três a vender e nem tempo tínhamos para nada…Era sempre a correr. Num dia vendíamos aos 900 pastéis de nata!

Agora vendem-se 25 e é uma sorte”…

Com um grande beijinho para si e um forte abraço para o meu amigo e seu filho.

*NELSON FERNANDES recorda em Cascais24Horas duas vezes por semana factos e curiosidades que marcaram outrora Cascais e fazem parte da história de esta vila de reis e pescadores.

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