20 de November, 2024
VARINAS: “Estatuetas vivas” e “Embaixadoras do mar” 
Você Sabia?

VARINAS: “Estatuetas vivas” e “Embaixadoras do mar” 

Out 7, 2024

Começo com esta transcrição em que Cascais é recordada:

cantada num fado da nossa Amália Rodrigues.

De uma sardinha fresquinha

Diga-me lá quem não gosta

Salpicadinha, viva da costa

Assim vivinha

Chegadinha de Cascais.

Trata-se de um grupo étnico originário das zonas piscatórias de Aveiro, Cascais,Ílhavo, Torreira, Furadouro, Mira e, principalmente, Ovar. Aliás, o popular termo “varinas” não é senão uma abreviação de “ovarinas”, por facilidade de pronúncia.

Era gente exclusivamente dedicada ao labor nas actividades piscatórias e portuárias, desde o primeiro quartel do século passado, e que começou por se instalar nos bairros da Madragoa e da Esperança.

Justamente por isso, o escritor Silva Bastos crismou a Madragoa de “bairro da chinela e da canastra”.

Ainda me lembro de as ouvir apregoar a “Marmota!” ou o “Carapau pr’ò Gato”, além da mais popular “Vivinha da Costa!”.

Mas a minha mãe e a minha avó contavam-me que antigamente lhes tinham ouvido a toada musical de outros pregões que entretanto foram desaparecendo, como a “Salpicadinha da Costa!” ou as “Cadelinhas para o Arroz!”.

A sensualidade dos seus corpos e do seu andar fez que diversos escritores as cantassem em poesia ou em prosa.

Portugueses e brasileiros foram numerosos, como Cesário Verde, Augusto Santa Rita, Carlos Queirós, Fernanda de Castro, Luís Teixeira, Gilberto Freyre… Pinheiro Chagas achava-as “as Gregas do Ocidente”; Fialho de Almeida, “estatuetas rústicas e marinhas”.

E até um suíço, René Karch, as classificou de “embaixadoras do Mar”.

“De mão na ilharga, equilibravam a canastra, conservando os braços arqueados em jeito de asa de cantarinha. O busto, esse, era cingido por corpete de chita ou de flanela, conforme a estação. A cinta de lã, repuxada nos quadris, alteava-lhes as saias de serguilha enxadrezada e de roda ampla, resguardadas por avental.

Do lado esquerdo e a bom jeito para amealhar os lucros, a “patrona” – algibeira mutável de confecção singela. Completavam a andaina do dia-a-dia, o lenço de ramagens, cruzado nas espáduas ou caindo solto e, sobre ele, o chapelinho circular de feltro negro, achatando como prato raso e de abas ligeiramente reviradas.

A rodilha, ou “sogra”, servia de amortizador, suavizando o peso do fardo.”

Para delícia de todas as minhas amigas e amigos leitores.

*NELSON FERNANDES recorda em Cascais24Horas duas vezes por semana factos e curiosidades que marcaram outrora Cascais e fazem parte da história de esta vila de reis e pescadores.

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