20 de November, 2024
CASO GALERA. Registo dos CTT desmente presidente Carreiras
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CASO GALERA. Registo dos CTT desmente presidente Carreiras

Mar 14, 2024
A Carta Aberta foi enviada, de acordo com o registo dos CTT, na foto à esquerda, a Carlos Carreiras no dia 23 de fevereiro

Por Valdemar Pinheiro | 21h40

O presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, pode ter mentido à maioria e à oposição na última reunião do executivo, ao afirmar não ter recebido uma Carta Aberta da Galera Modas, na qual revelava o seu encerramento e alertava para o declínio do comércio no centro da vila de Cascais.

Um registo dos CTT, datado de 23 de fevereiro, ao qual Cascais24Horas teve acesso, prova o envio da “Carta Aberta” da Galera Modas ao presidente da Câmara Municipal de Cascais.

No entanto, na reunião do executivo, de 4 de março, Carlos Carreiras afirmou “ter visto que foi anunciado uma carta aberta, que não recebi, o que me leva a deduzir, com outro tipo de atitudes que têm a mesma origem, de que se trata, acima de tudo, de alguma tentativa de afetar politicamente a minha pessoa ou, inclusivamente, a própria maioria da Câmara”.

VEREADOR do PS Luís Miguel Reis, que lamentou encerramento da histórica loja Galera

Carlos Carreiras falou sobre o encerramento da histórica loja Galera Modas depois do vereador do PS Luís Miguel Reis “lamentar” o encerramento de uma loja que fez parte da história do concelho e da vila de Cascais, tendo sublinhado que “é uma pena continuarmos a assistir a uma profunda descaraterização da baixa de Cascais”, além de que, atualmente, “quem percorre as principais ruas do centro da vila pouco encontra de Cascais de outrora”.

A propósito, o vereador do Chega, João Rodrigues dos Santos, “associou-se” ao vereador do PS, afirmando que gostaria de fazer parte de uma solução para o que “está a acontecer na baixa de Cascais” com o comércio tradicional.

JOÃO Rodrigues dos Santos, vereador do Chega, também está disponível para encontrar soluções

Na resposta, o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, afirmou que “podemos ficar nos lamentos que quisermos” e considerou que a Galera Modas “não é assim tão histórico como querem fazer passar”.

O chefe do executivo assegurou, ainda, que “a Câmara não vai fazer qualquer tipo de apoio a empresários que, ainda para mais, não têm ou demonstram ter capacidades para o negócio que desenvolvem”.

João Aguiar, da Galera Modas, autor da Carta Aberta, não só “lamenta as palavras” do presidente do município, como revela que “fomos obrigados a fechar, não por incapacidade para o negócio, com o qual fizemos história em quase 50 anos, mas pelo facto de conhecidas e reputadas marcas internacionais não quererem investir numa área geograficamente onde predomina um holocausto comercial, de fraquíssima qualidade nos souvenirs que comercializa, ocupando abusivamente a via pública, tornando a rua Direita, um postal de Cascais, numa autêntica babilónia”.

NOTÍCIA avançada por CASCAIS24HORAS criou polémica e onda de indignação pelo encerramento de histórica loja cascalense

CASCAIS24HORAS REPRODUZ A CARTA ABERTA

À atenção do Exmº Sr. Presidente da Câmara de Cascais, Dr. Carlos Carreiras

É um privilégio viver e visitar Cascais. Deveria ser também trabalhar em Cascais, particularmente na atividade comercial, que nos últimos anos tem registado forte decadência.

Sentem, os comerciantes de Cascais, uma acentuada quebra de qualidade na oferta e no enquadramento geral da atividade, perdendo-se em exclusividade e clientes. Sentem, os comerciantes de Cascais, um notório desacompanhamento por parte da sua Câmara Municipal em impulsionar o comércio de qualidade e devolver à Vila o “glamour” de outros tempos, com novos argumentos contemporâneos.

Muitos exemplos se podem apontar. Entre os mais visíveis, será difícil não reparar na rua Direita, como a CMC permite que as lojas de “souvenirs” ocupem a via pública, de forma abusiva, para a exposição dos seus artigos, sem a mínima preocupação estética, denotando falta de cuidado e estratégia comercial.

Ainda nesse exemplo, se a intenção é permitir essa forma de promoção dos produtos, não faria sentido a utilização de expositores uniformes para todas as lojas, com uma imagem apropriada à imagem de Cascais?

O mesmo se aplica aos espaços ocupados por esplanadas, onde cada um coloca as mesas e cadeiras que bem entende – na maioria dos casos equipamentos sem qualidade fornecidos por marcas de fabricantes de bebidas – quando todos teriam a ganhar com a utilização de mobiliário uniformizado e de bom impacto visual, à semelhança do que se pratica em muitas estâncias de Itália, Espanha, França (e muito mais), onde a intenção de atrair turismo de qualidade se evidencia através de pequenos pormenores que caracterizam um bom ambiente.

É no detalhe que reside a diferença. E as “forças vivas” da Vila apreciariam um maior dinamismo por parte da CMC no apoio ao comércio na Baixa. A oferta de tempo de estacionamento para quem pretende fazer compras, ou tratarem de outros assuntos seria uma medida bem-vinda para conforto dos utentes e dinamização da procura.

Ainda no que diz respeito ao tráfego na mesma zona, seria interessante rever a situação da circulação das bicicletas em zonas pedonais, uma constante que tem resultado em frequentes atropelamentos. Porquê a colocação do parque de bicicletas junto à estação, quando, de facto, deveria estar localizado nas imediações da ciclovia?

Na mesma zona são frequentes, no inverno, fumegantes assadores de castanhas, cujo cheiro invade o interior dos estabelecimentos. Em momentos de preocupação com o ambiente, não deveria a CMC obrigar à utilização de assadores elétricos, com o mesmo resultado gastronómico mas sem emissão excessiva de fumos?

E continuando na Baixa de Cascais, outros assuntos nos merecem chamada de atenção.

Os concertos nas Festas do Mar, ao contrário do que se possa pensar, não resultam em nenhum acréscimo significativo da atividade comercial. O que sucede é que a multidão que toma conta da zona vem apenas para os concertos e, nesses dias de verão as lojas deixam de faturar, sem que a CMC tome qualquer medida para compensar o comércio local. Concertos sim, mas em zonas mais propícias, como por exemplo no Hipódromo, que tem resultado bem em outras iniciativas.

E aí mesmo ao lado, no Parque Marechal Carmona, temos, em dezembro, uma Feira de Natal com acesso pago – só para entrar – que além de obrigar muitas famílias a ficarem “à porta”, impede a normal utilização do parque a centenas de crianças que no dia-a-dia utilizam as áreas de lazer infantis. Uma situação a repensar.

De facto, são as novas construções e urbanizações que parecem estar no eixo dos trabalhos e arranjos da Baixa de Cascais. O espaço público não merece grande atenção. Cascais não tem, por exemplo, uma fonte digna desse nome, um espaço com água, para usufruto dos que cá vivem e quem vem de fora.

Outras estruturas parecem-nos mal pensadas, como a área de restauração na antiga lota da Vila. São cerca de 2000 metros quadrados para um único restaurante, perfeitamente desproporcionado e subaproveitado, quando o espaço poderia ser repartido com um conjunto de estabelecimentos de qualidade, emprestando outro dinamismo à Vila.

Cascais precisa que o seu governo esteja com as pessoas. Habitantes e comerciantes de Cascais gostariam de sentir que a sua Câmara trabalha em defesa de um local carismático e diferente, marcado pela qualidade, onde as pessoas estão em posição central. Seja na qualidade dos equipamentos seja nos incentivos à geração de melhores condições de trabalho.

No que respeita a promoções comerciais, por exemplo, durante o período da epidemia de Covid, a CMC atribui incentivos como isenção de taxas de toldos e explanadas. Em comparação, a Câmara Municipal de Sintra, atribuiu cheques de 5000 e 3000 euros, respetivamente a restaurantes e lojas.

Já para não falar nas “facilidades” concedidas para instalação de unidades de grandes grupos internacionais em detrimento do tecido empresarial local, que a CMC parece ignorar, em vez de contribuir para elevar o padrão atual.

Até parece que a CMC não quer lojas e muito menos comércio de qualidade… sendo o comércio a principal atividade do Concelho.

Melhores cumprimentos

João Carlos Aguiar

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