A LINHA de Cascais, o Exemplo da Incompetência
Não deve haver pior exemplo de incompetência na área dos transportes em Portugal que a gestão da Linha de Cascais ao longo das últimas décadas. O estado de degradação a que chegou uma das mais importantes linhas ferroviárias suburbanas é indiscritível e incompreensível.
Temos hoje uma oferta de serviço pior que há 50 anos atrás. A maior parte das composições encontra-se vandalizada com grafiti, muitas circulam com avarias nas portas, com os painéis eletrónicos de informação desligados ou avariados e/ou com insuficiente ar condicionado em dias muito quentes ou muito frios. São frequentes avarias, interrupções de serviço e atrasos.
Se o estado das composições deixa muito a desejar, o estado de conservação das estações é uma realidade ainda pior. A passagem inferior em Alcântara-Mar é uma cena tirada de um filme de terror, com escadas rolantes inoperacionais há muitos anos, paredes grafitadas, iluminação destruída e um cheiro nauseabundo por todo o lado.
A passagem inferior em São João do Estoril tem os elevadores inoperacionais há muito tempo e, por isso, a maior parte dos passageiros prefere atravessar a linha a pé junto à passagem de nível. A passagem inferior tem uns 15 anos, mais ou menos, um investimento considerável deixado rapidamente ao abandono, vandalizado e local de refúgio para pessoas sem abrigo.
Outras estações e respetivas passagens inferiores ou superiores sofrem de problemas semelhantes, vandalizadas, grafitadas e/ou com elevadores inoperacionais. A isto somam-se máquinas de venda e validadores de bilhetes avariados um pouco por todo o lado. Em Belém, o atravessamento da linha para passageiros com mobilidade condicionada requer sair da plataforma e percorrer um caminho de 200m por debaixo de painéis publicitários ao lado da linha férrea.
A ligação da Linha de Cascais à Linha da Cintura, uma obra estruturante que permitiria grandes reduções de tempo e aumento de comodidade no acesso a áreas de Lisboa como o Parque das Nações, e sucessivamente prometida em inúmeros programas de investimento ferroviário, é repetidamente adiada. A chegada dos novos comboios, inicialmente prevista para 2026, está atrasada com o processo de compra em tribunal, e esta data não será cumprida.
A tudo isto somam-se as constantes greves de sextas-feiras, promovidas por sindicatos afetos ao PCP, com o único objetivo de ganhar dividendos políticos, sem qualquer consideração pelos passageiros.
O Estado gasta milhões de euros dos nossos impostos em infraestrutura que depois deixa ao abandono, para depois voltar a gastar mais milhões de euros a recuperar essa infraestrutura, num círculo vicioso de incompetência e despesismo pago por todos nós.
Como é que chegámos aqui? Ao longo dos últimos 50 anos, após o fim da concessão privada da Linha de Cascais, os sucessivos governos liderados pelo PS e pelo PSD nomearam os conselhos de administração da CP e da IP (anteriormente REFER), responsáveis pela gestão do serviço na Linha de Cascais. Para aqueles que cegamente acreditam que mais Estado e apenas Estado é a solução dos nossos problemas resta-lhes contemplarem o desastroso resultado dessa abordagem. Mais incompetência que isto é difícil.
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