QUEIJADAS de Sintra e os seus vendedores
Para as pessoas da minha geração, uma das recordações literalmente mais saborosas da infância é sem dúvida a das guloseimas que se vendiam nas praias. E, dentro de todas, a minha preferência ia para as Bolas de Berlim e as Queijadas de Sintra.
Estas queijadas têm uma história que remonta a vários séculos, conforme factos documentados e algumas lendas à mistura. Certo, certo, é que há registo de que elas eram já fabricadas em conventos em 1227, ou seja, no reinado de D. Sancho II, quarto rei de Portugal.
E, na Idade Média, dizem as escrituras que eram frequentemente usadas – pasme-se! – Como moeda para pagamento de rendas e foros. Outra referência importante, esta bem mais recente, surge-nos no livro “Aventuras de Basílio Fernando Enxertado” (1863), de Camilo Castelo Branco, que, a determinado passo, escreve: “Basílio levava na algibeira do albornoz um embrulho de queijadas da Sapa.”
Esta Sapa, ou, mais precisamente, Maria Sapa, era uma comerciante de Ranholas, localidade pertencente ao concelho de Sintra, e que fabricava queijadas. A sua marca é, muito provavelmente, a mais antiga, anterior, inclusive, à da Pastelaria Piriquita, em Sintra, talvez a mais popular nos nossos dias.
Voltando à temática da fotografia que hoje publico (tirada na Praia da Maçãs, penso que nos anos 50/60), ela documenta o que eram os jovens vendedores que percorriam as praias apregoando “Queijadas… de Sintra! Olha as queijadinhas!”.
Não sei se as redes destes jovens eram directamente patrocinadas pelo fabricantes ou se, em certos casos, eram os seus familiares que fabricavam os deliciosos pastéis e, consoante a época do ano, os vendiam nas praias da zona saloia e, mais tarde, também nas praias da Linha de Cascais.
Eu já as comi numa fase de comercialização mais avançada, em rolos de seis unidades, empilhadas duas a duas e, nesta posição, separadas por um pequenino recorte de papel manteiga.
Toda esta minha prosa de hoje para, afinal, falar de um doce que se apresenta em pequenas formas de massa tenra de aproximadamente 5 cm de diâmetro, antecipadamente cozidas para ficarem mais rijas, e contendo um recheio preparado à base de queijo fresco, ovos, farinha e canela.
Mas, sobretudo, para recordar esse tempo em que, após o banho no mar, aguardávamos com ansiedade pela passagem destes jovens vendedores com tabuleiros de verga suportados a tiracolo por uma tira de couro.
*NELSON FERNANDES recorda em Cascais24Horas duas vezes por semana factos e curiosidades que marcaram outrora Cascais e fazem parte da história de esta vila de reis e pescadores.
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1 Comment
Sensacional, não fazia ideia desta história das cajadas de Sintra Parabéns.