
AS NOTAS DAS CANDIDATURAS

OPINIÃO | MIGUEL BARROS
Terminadas as eleições, é altura de avaliar as diferentes nove candidaturas à Câmara Municipal de Cascais, em face das expetativas e dos resultados que obtiveram.
ADN (Fábio Pereira) – Insuficiente
Concorrendo pela primeira vez a umas eleições autárquicas em Cascais, mas não dispondo nem de um candidato com notoriedade local, nem de recursos para o divulgar, o ADN obteve apenas 270 votos para a Câmara Municipal de Cascais. Poucos ouviram falar desta candidatura e o fraco resultado não dá sequer direito a atribuição da subvenção de campanha. Uma candidatura certamente corajosa, mas com um resultado claramente insuficiente.
CDU (Carlos Rabaçal) – Insuficiente
A CDU tentou recuperar o lugar de vereador que perdeu em 2021 lançando um candidato com uma vasta experiência política e autárquica. Apesar disso, conseguiu menos votos que em 2021 e acabou por obter o pior resultado de sempre em Cascais em eleições autárquicas. O resultado confirma uma perda sustentada e contínua de influência a nível local, muito semelhante à perda de influência do PCP a nível nacional.
ND/NC (António Pinto Pereira) – Suficiente
Uma candidatura que apareceu inicialmente como estando muito próximo do Chega. Acabou por recorrer à Nova Direita e ao Nós Cidadãos para concorrer, mantendo, no entanto, um discurso muito próximo da linha ideológica do Chega. Apesar de um grande esforço nas redes sociais pelo seu candidato, a mensagem não passou para fora da bolha e a limitação de meios humanos e financeiros não permitiram ir mais longe (a escolha de estruturas para cartazes que atraem rebarbadoras também não ajudou). Fica o registo dos muitos e saborosos almoços e jantares, retratados nas redes sociais, que mantiveram o entusiasmo de uma campanha certamente extenuante, mas cheia de energia, e o prémio de consolação por eleger um deputado municipal.
BE/L/PAN (Alexandre Abreu) – Suficiente
A coligação BE/L/PAN procurou agregar votos à esquerda com uma campanha muito focada em temas sociais e ambientais, mas sem radicalismos. Com um candidato relativamente moderado e tecnicamente bem preparado, esta coligação à esquerda tinha tudo para, em teoria, obter um resultado que lhe permitisse eleger um vereador. A coligação não conseguiu, no entanto, atingir esse objetivo, mas elegeu representantes para a assembleia Municipal e três assembleias de freguesia continuando assim a ser uma voz política ativa no concelho.
IL (Miguel Simões de Almeida) – Bom
A IL apresentou uma equipa renovada, diminuindo o tom crítico ao atual executivo. Com um programa extenso e tecnicamente muito bem preparado, a IL focou fortemente o seu discurso político nas medidas que propunha. Sendo Cascais o maior (e mais importante) concelho onde a IL concorreu sozinha (sem ser em coligação com o PSD) foi notório o aumento nos meios humanos e financeiros que foram utilizados. Apesar de ainda não ter sido desta que a IL elegeu um vereador, obteve uma votação reforçada em relação a 2021 e está agora presente na assembleia municipal e em todas as assembleias de freguesia.
Chega (João Rodrigues dos Santos) – Bom
Com uma campanha igual à de tantos outros concelhos onde a presença (pelo menos em cartazes) de André Ventura é tão importante como a dos candidatos locais, o Chega reforçou consideravelmente a sua votação em Cascais em relação a 2021, à boleia do seu líder e do resultado das recentes eleições legislativas. O resultado obtido permite-lhe ser, em Cascais, o fiel da balança na Câmara Municipal de Cascais, assembleia municipal e assembleias de freguesia, caso PSD e Chega cheguem a acordo entre si.
Jonet (João Maria Jonet) – Muito Bom
Não é fácil montar uma candidatura independente num concelho como Cascais e por isso em 50 anos de democracia tem havido muito poucas. Com fortes apoios locais por parte dos descontentes do PSD e CDS, conseguiu o melhor resultado de sempre de uma candidatura independente. O futuro dirá, no entanto, se é realmente independente, ou apenas outra versão do PSD. Mas é indiscutível que, um pouco contra tudo e todos, a campanha que montou, profissional e competente, não ficou atrás de outras mais experientes. A mensagem passou e convenceu. João Maria Jonet ganhou, por mérito próprio, o direito a sentar-se à mesa da vereação e lançou o que pode ser uma alternativa real ao PSD Cascais em 2029.
PS (João Ruivo) – Insuficiente
O PS apresentou o candidato que melhor conhece os temas do concelho, pela sua longa atividade autárquica em Cascais. Ao mesmo tempo, alinhou o seu discurso político muito mais ao centro-esquerda moderado, do que à esquerda radical à qual o PS nacional ficou associado num passado recente. Apesar de tudo, o resultado foi francamente abaixo das expetativas com a pior votação do PS em eleições autárquicas em Cascais desde 1985, ficando reduzido a 2 vereadores na Câmara Municipal de Cascais.
PSD/CDS (Nuno Piteira Lopes) – Bom
Foi a candidatura mais votada, e ganhou as 4 freguesias, e por isso merece a avaliação de Bom. Mas a vitória é amarga e o futuro incerto. Obteve o pior resultado de sempre para o PSD/CDS (coligado, ou somando votações individuais) em 50 anos, perdeu a maioria absoluta na Câmara Municipal de Cascais que era do PSD/CDS há 25 anos, perdeu a maioria absoluta na assembleia municipal e perdeu a maioria absoluta em todas as assembleias de freguesia. Abriu espaço dentro do próprio PSD para o crescimento de alternativas à liderança de Nuno Piteira Lopes. Na Câmara Municipal fica limitado pelos acordos que consiga fazer com o Chega, PS ou Jonet. O desafio de Nuno Piteira Lopes para os próximos quatro anos será o de reverter a pesada herança de 12 anos de Carlos Carreiras e ganhar o protagonismo próprio que ambiciona. O futuro dirá se este resultado foi apenas um percalço temporário na história do PSD Cascais ou início da perda de poder.
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1 Comment
De forma genérica concordo com as suas notações expecto quanto a atribuída a António Pinto Pereira. Foi uma verdadeira lástima quer no conteúdo quer no resultado. Aliás o resultado foi o que foi pelo conteúdo …sem projecto …ideias fantasiosas …e um rol de acusações infundadas a todo e a todos!