PERIGO SOBRE RODAS? PROCURADORIA-Geral da República abre inquérito a incêndios em veículos elétricos de marca francesa | C/Vídeo


Por: VALDEMAR PINHEIRO | Jornalista
A Procuradoria-Geral da República abriu um inquérito para investigar a origem de vários incêndios em veículos elétricos, da marca Renault e modelo Zoe, apurou Cascais24Horas.
Em causa estão, no último ano e meio, incêndios e explosões registados em veículos elétricos daquela marca e modelo que, quer em carregamentos, quer em circulação e ou estacionamento, arderam e que, em alguns casos, só por acaso, não provocaram vítimas.
Na participação criminal contra a Renault Portugal SA, que deu origem à abertura do inquérito, num primeiro caso distribuído ao DIAP de Amadora e à qual Cascais24Horas teve acesso, levantam-se questões sobre a segurança do modelo e da versão dos veículos da marca que têm ardido e pedem-se responsabilidades à Renault Portugal.
VÍDEO
Um dos casos registou-se em dezembro de 2023, na Damaia, Amadora e em que o veículo em carregamento numa garagem começou a arder sem que tivesse havido qualquer dano na instalação elétrica do espaço. Imagens de videovigilância mostram que o fumo e a explosão não tiveram, aparentemente, origem na tomada de carregamento, que ficou intacta, mas antes no próprio veículo.
Em consequência de este incêndio, toda a garagem ficou destruída, tendo na altura o dono calculado os estragos em mais de 200 mil euros. Um relatório de peritagem da GEP-Gestão de Peritagens SA, feito a pedido da seguradora Fidelidade, foi no sentido de que “a deflagração do foco de incêndio teve origem no veículo e não no equipamento de carregamento”.
Aparentemente, a Renault Portugal declinou qualquer responsabilidade, com os peritos a sublinharem que “numa pesquisa efectuada, constata-se inúmeros casos de deflagração de incêndios em veículos marca Renault modelo Zoe e a Renault Portugal a recusar prestar quaisquer tipo de esclarecimentos técnicos para aferir a origem dos incêndios”.
Sucessão de casos
A juntar ao caso da Damaia, existem muitos outros, como, por exemplo, o que aconteceu em junho do ano passado. Um veículo Renault Zoe, que circulava na EN 248-3, incendiou-se, depois de uma das baterias ter rebentado. Os ocupantes, mãe e filho, foram salvos graças à ação corajosa de um outro automobilista, mas sofreram ferimentos.

Ainda no ano passado, em novembro, em Vila Franca de Xira, um Renault Zoe estacionado à porta de casa do seu proprietário, um comerciante de placas solares, começou a arder quando estava a ser carregado, sem que o quadro elétrico tivesse disparado. Terá ficado provado que o incêndio terá começado na bateria de lítio, na parte de trás do veículo.

A sucessão de casos não param e, ainda, em novembro do ano passado, frente a uma escola, em Santarém, um veículo estacionado entrou em auto combustão e transformou-se rapidamente numa “bola de fogo”, tendo atingido ainda dois outros veículos estacionados.
Já em abril último, em Aveiro, várias viaturas da Polícia Municipal arderam depois de um incêndio ter deflagrado numa delas, da marca Renault Zoe. Ter-se-á apurado que o incêndio terá tido origem na bateria de lítio situada por baixo do banco traseiro.

O último caso conhecido registou-se em maio no NorteShopping, em Matosinhos, com um Renault Zoe a causar presumivelmente o incêndio, que atingiu outros veículos e provocou a intoxicação de, pelo menos, três pessoas, por inalação de fumos.
João Ferreira, advogado de uma das vítimas, contactado por Cascais24Horas, manifestou-se “muito preocupado com a sucessão de incêndios neste modelo” do fabricante francês, até porque, sublinhou, “há veículos ao serviço de entidades públicas, para além de empresas Uber, que transportam diariamente centenas de pessoas e a sua integridade física pode estar comprometida”.
Renault em silêncio
A Renault Portugal não só tem declinado responsabilidades na sucessão de casos, como, também, não respondeu a questões levantadas por Cascais24Horas.
O silêncio parece ser de oiro por parte da prestigiada marca francesa fundada em 1889.
Em setembro último, Cascais24Horas enviou à Renault Portugal, por email, um conjunto de questões relacionadas com a série de incêndios nos seus veículos elétricos Zoe.
Reproduzimos aqui o email enviado

Porém, até ao momento e decorridos quase dois meses, não obtivemos qualquer resposta às questões colocadas.