7 de February, 2025
A TORRE de São Patrício
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A TORRE de São Patrício

Fev 3, 2025

O edifício civil conhecido como Torre de São Patrício (actual Casa-Museu Verdades de Faria) é uma das mais ecléticas construções do atual concelho de Cascais e uma das obras que melhor contribuiu para a tendência romântica e plena de novo-riquismo em que a antiga vila viveu durante os anos finais do século XIX e primeiras décadas do seguinte.

Ele resulta de uma encomenda do empresário e herdeiro do trono irlandês Jorge O’Neill ao arquiteto Raul Lino, efetuada em 1918.

Aprovado o projeto, deu-se imediato arranque às obras, que estavam praticamente concluídas em 1920, o que demonstra a rapidez e os grandiosos meios postos à disposição da empreitada.

O edifício compõe-se por três corpos essenciais: a torre neomedieval; a casa apalaçada e o claustro traseiro. A primeira é o elemento que mais se destaca, não apenas pelo diferente aparelho construtivo (em cantaria de talhe perfeito), como pelos seus quatro pisos.

O portal principal, aberto axialmente no andar térreo, apresenta uma curiosa solução neomanuelina, uma vez que é antecedido por pequeno alpendre suportado por duas colunas torsas e é, ele próprio, sustentado por colunas decoradas com romãs e elementos vegetalistas. Os três pisos superiores são heterogeneamente iluminados por janelas de arco a pleno centro, sendo de destacar a solução do último andar, com tripla janela disposta harmonicamente no alçado, denotando uma deliberada simetria.

O remate desta estrutura é feito por um derradeiro pano de muro, ameado, com gárgulas de canhão a eixo e guaritas circulares nos ângulos, suportadas por triplo modilhão escalonado.

A casa apalaçada adoça-se à torre e possui três pisos. A fachada principal conjuga diversas tendências neomedievais, sendo de salientar a tripla arcada neomudéjar do andar nobre, com arcos em ferradura, a que se acede através de duplo lanço de escadas a partir do solo. Esta arcada insere-se no corpo médio da casa, que é sintomaticamente avançado em relação aos dois restantes que o ladeiam, demonstrando, também aqui, uma grande preocupação pela simetria e racionalidade do conjunto.

O terceiro piso possui também varanda axial avançada, disposta de forma tripla, mas com recurso a colunas lisas, contrastando, desta forma, com a exuberante arcaria do piso médio. Nos corpos laterais, o piso nobre é igualmente sobrevalorizado, ostentando uma dupla janela de arcos em ferradura, ao contrário da simplicidade do arco abatido do piso térreo e das duas janelas quadrangulares do superior.

Finalmente, o claustro é de dois pisos e marcado a toda a volta por alto muro ameado. Ao centro, existe uma fonte e as alas abrem-se para a quadra central através de arcarias de volta perfeita, estando as paredes cobertas por painéis de azulejos setecentistas. Do conjunto monumental faz ainda parte a capela, de planta quadrangular coberta com abóbada neogótica, com altar contendo a imagem em tamanho natural de São Patrício, santo protetor da Irlanda. No interior, destacam-se algumas salas, revestidas por azulejos e com tetos pintados em grotescos e outras figurações características do vocabulário artístico eclético.

Em 1950, a propriedade foi adquirida por Enrique Belard, que aqui estabeleceu residência. Em 1974, por legado testamentário, o palacete passou para a posse da autarquia, com a condição desta instituir o Museu Verdades de Faria, designação em homenagem à mulher de Belard, Gertrudes Verdades de Faria.

Apesar desta determinação do antigo proprietário, o espaço só foi transformado em Museu em 1988, quando a autarquia aqui depositou o espólio de Michel Giacometti.

Transformado em Museu da Música Regional Portuguesa, a coleção foi recentemente enriquecida com o espólio de Fernando Lopes Graça e, na última década, constituiu-se como instituição de referência no plano da salvaguarda da memória musical nacional.

*NELSON FERNANDES recorda em Cascais24Horas duas vezes por semana factos e curiosidades que marcaram outrora Cascais e fazem parte da história de esta vila de reis e pescadores.

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2 Comments

  • Gosto muito de ler as crónicas do Sr.Nelson Fernandes
    Parabéns
    Manuela Pires

  • Bom dia
    Essa fotografia não é da Torre de São Patrício (actual Casa-Museu Verdades de Faria), conforme refere no artigo.
    Obrigado

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