![A SUAVE paisagem de Cascais à beira-mar e a lição de diplomacia e respeito pela “soberania” dos pescadores](https://cascais24horas.pt/wp-content/uploads/2025/01/NelsonFernandesSuave-770x284.jpg)
A SUAVE paisagem de Cascais à beira-mar e a lição de diplomacia e respeito pela “soberania” dos pescadores
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Este é mais um postal do meu editor favorito da história dos bilhetes-postais ilustrados em Portugal: a Tabacaria Costa.
Este retrato da Praia de Cascais será do princípio do século XX, já que o exemplar (não circulado) é garantidamente anterior à reforma postal de 1904.
Os barcos (de pesca e de mercadorias) devem ter terminado a descarga, pois a movimentação de gente é já reduzida, e o velame só parcialmente está recolhido, sinal de que as embarcações irão em breve fazer-se de novo ao rio.
Há uma serenidade em toda a ambiência que nos diz estarmos muito provavelmente no fim do Verão. Algo que me faz lembrar uma maravilhosa descrição de Ramalho Ortigão no seu livro “As Praias de Portugal – Guia do Viajante e do Banhista”, que irei brevemente aqui partilhar
Escreveu assim o autor d’”As Farpas”: “(…) em meados de Setembro, quando a habitual nortada da costa atlântica amaina, o mar é normalmente mais calmo em Cascais, pois a praia é extremamente abrigada. A água fica serena como numa tina, e a brisa é tão suave que não faz ondear uma fita nos chapéus das senhoras sentadas à sombra das suas barracas!”
E vem a propósito recordar que a estada da Família Real nesta vila, iniciada em 1897 pela Rainha Dª Maria Pia e por seu marido, D. Luís, se consolidou em 1870, quando a antiga Casa do Governador da Cidadela foi convertida pelo Rei D. Carlos em Paço de Cascais, o local nada aparatoso onde a Corte passou a instalar-se todos os anos a partir de meados de Setembro.
Mais precisamente, a entrada dos mais altos dignitários da Nação acontecia a 28 de Setembro, por, numa curiosa coincidência, ser esse o dia do aniversário tanto do Rei D. Carlos como da Rainha Dª Amélia, mantendo-se ali ambos de férias até meados de Outubro.
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Há não muito tempo, recordo-me de ter lido um curioso episódio desta presença estival da Corte na outrora “pequena aldeia de pescadores, mareantes e alguns lavradores” que o Rei D. Pedro I elevara ao estatuto de vila já no remoto século XIV. Esse episódio, narrado por um velho pescador cascalense que o ouvira dos seus antepassados, consistia no seguinte: a vinda da Família Real e dos respectivos cortesãos para tomar banhos na Praia da Ribeira ou dos Pescadores originou um compreensível conflito com os trabalhadores do mar que ali estavam habituados a dar repouso às suas embarcações e manutenção dos apetrechos.
Ao que consta, foi o próprio D. Carlos I quem negociou com os pescadores a divisão do areal em duas zonas: uma ficaria reservada aos banhistas, que ali passavam a montar os seus toldos e barracas, e a outra manter-se-ia reservada aos mareantes.
Um gesto de compreensão pelos profissionais pescadores que bem poderia e deveria ser seguido hoje em dia pelos novos senhores do Poder.
*NELSON FERNANDES recorda em Cascais24Horas duas vezes por semana factos e curiosidades que marcaram outrora Cascais e fazem parte da história de esta vila de reis e pescadores.
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