
VIVER de Aparências

Um exemplo de como Carlos Carreiras e Nuno Piteira Lopes gostam de viver de aparências é o novo “terminal rodoviário” de Cascais.
Carlos Carreiras, no seu deslumbramento, insiste nas vantagens do novo condomínio no local do antigo terminal e, em particular, no envolvimento de um conceituado gabinete de arquitetura sediado em Londres.
A verdade é que foi uma péssima troca para quem usa o autocarro. De um terminal rodoviário coberto com ligação direta à estação de comboios (ainda que propositadamente deixado ao abandono), passou-se a uma solução mal-ajambrada, com paragens espalhadas por vários locais e um novo “terminal rodoviário” longe da estação.
Como consolação restará aos utentes dos transportes públicos admirar a certamente notável arquitetura do novo condomínio enquanto esperam à chuva e ao vento pelo M27 (não há abrigos nesta paragem, certamente para não tapar a vista a quem quer contemplar o futuro condomínio).
Mas não é exemplo único.
É assim um pouco por todo o lado em Cascais, onde a Câmara Municipal de Cascais espatifa milhões de euros em propaganda, tentando dar a aparência de que muito fez pelo concelho.
Apesar de receitas milionárias geradas pelo imobiliário de luxo (sobretudo IMT) as estradas estão cada vez mais congestionadas, continuam esburacadas e mal remendadas. Para manter as aparências circulam alguns autocarros a hidrogénio, os transportes são “gratuitos” (apesar de tantas vezes não passarem à hora, se passarem de todo) e distribuem-se bicicletas que estavam a enferrujar nas instalações da autarquia. Só anda de transportes públicos quem não consegue ter ou usar viatura própria.
Apesar de Cascais ser um dos concelhos com maior disponibilidade financeira é uma vergonha que ainda haja listas de espera para habitação social. Gastaram-se milhões de euros em investimentos ruinosos como o Aeroporto de Cascais ou em entidades como a DNA Cascais ou a efémera Cascais Invest, mas não se conseguiu (eu diria não se quis) resolver o problema dos mais desfavorecidos. Para manter as aparências fazemos a habitual propaganda com um “plano” como a Estratégia Local de Habitação tentando fazer passar a ideia de que se vão construir 3.600 novos fogos, quando a maior parte deste número são remodelações do que já existe. Já nem falo da total ausência de medidas para resolver o problema cada vez maior da falta de habitação e do seu elevadíssimo custo.
No ambiente aconteceu no concelho um pouco de tudo nestes últimos quatro anos: alguns dos maiores incêndios deste século, cheias no centro de Cascais, praias repetidamente interditadas a banhos por poluição, lixo que é deixado em todo o lado perante a passividade ou cumplicidade de quem devia fiscalizar, taxas de reciclagem muito longe dos objetivos, e uma imensa pressão urbanística sobre os espaços naturais do concelho. Mas para manter as aparências recebemos regularmente nas nossas caixas do correio uns sacos verdes para resíduos orgânicos (nem quero pensar no custo de andar a deixar estes sacos caixa a caixa…) e um jornal “C” em papel (!) a enaltecer a autarquia (a última edição inclui cinco fotos de Carlos Carreiras e três de Nuno Piteira Lopes)
Em 25 anos de gestão PSD (o CDS nada decide, e nada quer decidir, desde que consiga cargos de vereador ou presidente de junta de freguesia) pouco ou nada foi feito. E nada será feito, porque para Carlos Carreiras e Nuno Piteira Lopes gerir é isto: viver de aparências.
1 Comment
Tenho de aplaudir esta crónica.
É assim mesmo.
Triste, não é???