26 de April, 2025
VENDEDEIRAS AMBULANTES, QUEIJADAS E TRAVESSEIROS
Atualidade Você Sabia?

VENDEDEIRAS AMBULANTES, QUEIJADAS E TRAVESSEIROS

Mar 17, 2025

Para as pessoas da minha geração, uma das recordações literalmente mais saborosas da infância é sem dúvida a das guloseimas que se vendiam em Sintra e nas praias. E, dentre todas, a minha preferência ia para as Queijadas e Travesseiros de Sintra.

Estas queijadas e os travesseiros têm uma história que remonta a vários séculos, conforme factos documentados e algumas lendas à mistura. Certo, certo, é que há registo de que elas eram já fabricadas em conventos em 1227, ou seja, no reinado de D. Sancho II, quarto rei de Portugal.

E, na Idade Média, dizem as escrituras que eram frequentemente usadas – pasme-se! – como moeda para pagamento de rendas e foros. Outra referência importante, esta bem mais recente, surge-nos no livro “Aventuras de Basílio Fernando Enxertado” (1863), de Camilo Castelo Branco, que, a determinado passo, escreve: “Basílio levava na algibeira do albornoz um embrulho de queijadas e travesseiros da Sapa.”.

Esta Sapa, ou, mais precisamente, Maria Sapa, era uma comerciante de Ranholas, localidade pertencente ao concelho de Sintra, e que fabricava queijadas e travesseiros. A sua marca é, muito provavelmente, a mais antiga, anterior, inclusive, à da Pastelaria Piriquita, em Sintra, talvez a mais popular nos nossos dias.

(Créditos: Bensabat Benarus)

Voltando à temática da fotografia que hoje publico (tirada no Largo D. Amélia em Sintra, penso que nos anos 50/60), ela documenta o que eram as vendedeiras que percorriam as ruas e praias apregoando “Olha as Queijadinhas e Travesseiros…de Sintra!”.

Não sei se os fornecimentos destas jovens eram feitos directamente pelos fabricantes ou se, em certos casos, eram os seus familiares que fabricavam as deliciosas iguarias, consoante a época do ano, as vendiam nas ruas de Lisboa, nas praias da zona saloia e, mais tarde, também nas praias da Linha de Cascais.

As queijadas eu já as comi numa fase de comercialização mais avançada, em rolos de seis unidades, empilhadas duas a duas e, nesta posição, separadas por um pequenino recorte de papel manteiga.

Toda esta minha prosa de hoje para, afinal, falar de um doce que se apresenta em pequenas formas de massa tenra de aproximadamente 5 cm de diâmetro, antecipadamente cozidas para ficarem mais rijas, e contendo um recheio preparado à base de queijo fresco, ovos, farinha e canela. Dos travesseiros a receita dos ingredientes é um segredo bem guardado, mas acredita-se que envolva uma combinação especial de amêndoas e açúcar.

Posteriormente, começaram a ser produzidas em fábricas renomadas, como a Sapa, Gregório, Piriquita, Casa do Preto e Dona Estefânia, todas localizadas na cidade de Sintra.

Mas, sobretudo, para recordar esse tempo em que, após o banho no mar, aguardávamos com ansiedade pela passagem destas jovens vendedeiras com tabuleiros de verga suportados à tiracolo por uma tira de couro.

*NELSON FERNANDES recorda em Cascais24Horas duas vezes por semana factos e curiosidades que marcaram outrora Cascais e fazem parte da história de esta vila de reis e pescadores.

Clique aqui para ler Outros TEMAS https://cascais24horas.pt/category/voce-sabia

Deixe o seu Comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *