17 de July, 2025
SEM Informação não há Boa Decisão
Artigos de opinião

SEM Informação não há Boa Decisão

Jul 16, 2025

Qualquer organização, bem como qualquer um de nós, sabe que tomar decisões devidamente fundamentada em dados e informação é muito melhor que simplesmente tentar adivinhar o resultado da decisão.

Obter dados detalhados da Câmara Municipal de Cascais é uma tarefa hercúlea. Pedidos de informação de deputados municipais sobre temas como as isenções de pagamento de estacionamento concedidas por Carlos Carreiras são ignorados, pedidos ao abrigo da Lei de Acesso a Documentos Administrativos (LADA) requerem normalmente uma queixa junto da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) e mesmo assim nem sempre o parecer da CADA é respeitado, cartas registadas com aviso de receção são ignoradas, e por aí fora.

De igual modo não se conhecem os planos financeiros que sustentam os milhões de euros que foram e continuam a ser gastos em projetos faraónicos que, se é certo que geram bastante propaganda, não se traduziram em benefícios para os Cascalenses. Alguém conhece os estudos que sustentam os milhões de euros que têm sido gastos no Aeroporto de Cascais?

Mesmo quando esses dados existem algures dentro dos serviços administrativos, a Câmara Municipal de Cascais tem aversão ao trabalho rigoroso de análise desses dados antes de tomar decisões, ou então simplesmente não usa a informação para nada. Este problema existe, infelizmente, não só em Cascais, mas um pouco por toda a administração local e central, mas é particularmente grave em Cascais onde se confunde diariamente propaganda com factos.

O mais recente “Relatório de Desempenho do Serviço Público de Transportes de Passageiros no Concelho de Cascais”, relativo a 2024 e tornado público há poucos dias é um bom exemplo de tudo o que referi. Dando cumprimento a um conjunto de exigências legais, o Departamento da Autoridade de Transportes (DAT) da Câmara Municipal de Cascais publica anualmente aquilo a que, na gíria, se chama de despejo de dados, um conjunto de tabelas, com muitos números, mas com praticamente nenhuma análise séria ou conclusões.

Dados sobre índices de pontualidade nas diferentes linhas não existem. Em seis anos de relatórios de desempenho, continua a mesma frase de sempre “não foi fornecida, atempadamente, a informação necessária”. Taxa de fraude detetada também não existe, há seis anos.

Depois temos dados verdadeiramente alucinantes. Como sabem, a Câmara Municipal de Cascais perdeu em tribunal e, a 1 de setembro de 2024, os autocarros das linhas M01 a M36 deixaram de ser operados pela Martín e passaram e ser operados pela CasBusCais. Tomando a linha M34 como exemplo, enquanto operada pela Martín, a velocidade média do serviço foi de 13.1 km/h, mas quando passou para a CasBusCais passou para 22.0 km/h. Esta súbita aceleração, por muito que os passageiros estejam habituados, e eventualmente apreciem, um estilo de condução mais desportivo, não é possível nas estradas de Cascais. É óbvio que um destes números ou foi calculado de modo diferente, ou simplesmente está errado. O relatório alude vagamente a um eventual problema na inadequada alimentação do Power BI Operação MobiCascais Pick (o que quer que isto seja) por causa do novo sistema de bilhética como motivo destas discrepâncias, mas leia-se antes que ninguém sabe verdadeiramente o que aconteceu. Estes problemas recorrentes com a tecnologia não inspiram grande confiança na designação de Cascais como “smart city”.

Continuando, em 2024 houve 1004 reclamações (pontualidade é a maior causa), 542 acidentes envolvendo autocarros, quase todos por colisão (mas também dois despistes e três atropelamentos) e 15 incidentes de segurança incluindo agressões a passageiros, agressões ou insultos ao motorista, vandalismo e roubos. Estes números são bons ou maus? Como se comparam com outros operadores? O que está a ser feito para ser reduzidos? Não sabemos.

Por fim, como os passageiros do M19 bem sabem, alguns autocarros costumam circular um pouco cheios. Tão cheios que a taxa de ocupação média do M19 no período operado pela CasBusCais foi de 106%. E isto é a média, o que significa que terá havido serviços com passageiros muito mais compactados e certamente bem espremidos no seu interior.  O que diz o relatório sobre isto? Transcrevo: “Efetivamente, a equipa de fiscalização do DAT já verificou no terreno situações de sobrelotação na linha M19, sendo assim um indicador para refletir sobre a necessidade de criar mais oferta nesta linha.”. Para refletir?! Resolvam o problema, em vez de estarem a refletir.

A Câmara Municipal de Cascais tem de ser gerida por pessoas com experiência, competentes, e tecnicamente capazes, não por políticos que pouco ou nada fizeram na vida para além de falarem muito, gastarem o nosso dinheiro e deixarem tudo na mesma.

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