
O FIM de um ciclo executivo autárquico: balanço e desafios futuros

Com a aproximação de um novo ato eleitoral autárquico, chega igualmente ao termo o ciclo de governação municipal protagonizado pelo Presidente Carlos Carreiras. Este é um momento propício para proceder a uma análise crítica e ponderada do percurso político deste executivo, bem como das suas principais implicações e dos desafios que se perspetivam para o novo ciclo autárquico.
Ao longo do seu mandato, o Presidente Carlos Carreiras evidenciou uma evolução notável, tanto no plano político como pessoal. Inicialmente caracterizado por uma atitude combativa, por vezes excessivamente incisiva, acabaria por adotar uma postura progressivamente mais moderada e institucional, assumindo com maior equilíbrio o exercício do contraditório e do diálogo democrático. A sua liderança, simultaneamente carismática e convicta, foi-se pautando por uma crescente maturidade política, o que, na minha perspetiva, legitima a ideia de que concluirá as suas funções pela “porta grande”.
Este ciclo autárquico pode, em traços gerais, ser qualificado como expansionista. Assistiu-se a um incremento expressivo de obras públicas e privadas, o que potenciou não só o desenvolvimento urbano, como também o crescimento da população residente e a intensificação do fluxo turístico. Este aumento demográfico, embora gerador de riqueza local, acarreta inevitavelmente exigências acrescidas ao nível das infraestruturas urbanas, designadamente no domínio do saneamento básico, da rede viária, dos transportes públicos, da recolha de resíduos, bem como ao nível da poluição sonora e ambiental, da educação, da saúde e da ação social.
Entre os desafios mais prementes que se colocam ao futuro executivo municipal, destaca-se, de forma incontornável, a necessidade de garantir condições estruturais que viabilizem a fixação dos jovens no concelho. Os preços elevadíssimos da habitação nova tornaram-se manifestamente incomportáveis para a maioria da classe média local, comprometendo seriamente o acesso à habitação própria e forçando muitos jovens a abandonar o território onde nasceram ou desejariam permanecer. Apesar do aumento expressivo da construção de novos empreendimentos habitacionais, o mercado não registou uma descida de preços. Pelo contrário, estes continuam a escalar.
Perante este panorama, a resposta mais eficaz reside numa aposta estratégica e sustentada na habitação pública. Contudo, é imperioso que essa oferta pública se distinga, em qualidade e conceção, da tradicional “habitação social”, frequentemente associada a soluções arquitetónicas e construtivas de fraca qualidade e elevados encargos de manutenção. Tal como oportunamente defendeu o próprio Presidente, impõe-se substituir a designação “habitação social” por “habitação pública”, incorporando uma visão mais inclusiva, dignificante e funcional. Isso implica dotar os novos empreendimentos de características técnicas e arquitetónicas que se aproximem dos padrões médios do mercado imobiliário, designadamente através da utilização de materiais duradouros e de qualidade, soluções esteticamente equilibradas, espaços funcionais e, sobretudo, infraestruturas de acessibilidade adequadas, como a imprescindível instalação de elevadores. Casos como o do bairro da Encosta da Carreira, onde subsistem edifícios de três a cinco andares desprovidos de elevador, são paradigmáticos de uma negligência social e urbanística que urge definitivamente ultrapassar.
Cumpre sublinhar que estas políticas não se destinam exclusivamente às franjas mais vulneráveis da população, mas sobretudo à nova geração de cascalenses que ambicionam fixar-se no seu concelho de origem. A criação de condições para a atração e fixação de jovens qualificados constitui, aliás, uma das grandes estratégias para o desenvolvimento territorial sustentável, sobretudo num contexto de acentuado declínio demográfico e envelhecimento da população, fenómenos amplamente disseminados nos países desenvolvidos. Embora a imigração tenha mitigado parcialmente este fenómeno, ela não substitui a imperiosa necessidade de implementar políticas públicas que fomentem de forma ativa a permanência da juventude autóctone no território.
Neste contexto, revela-se absolutamente crucial enfatizar a importância da criação de emprego qualificado no tecido económico local, enquanto eixo complementar e determinante para a retenção da população jovem. O acesso à habitação, por si só, é insuficiente se não for acompanhado por oportunidades de trabalho estáveis, diversificadas e devidamente valorizadas. Cascais deverá, nesse sentido, promover uma economia mais robusta e resistente, menos dependente do setor turístico e da especulação imobiliária, incentivando o empreendedorismo, a inovação, a captação de investimento e a instalação de empresas tecnologicamente avançadas que reconheçam e valorizem o capital humano local. Apenas assim será possível reter os jovens talentos, oferecendo-lhes não apenas um lugar onde habitar, mas um território onde construir os seus projetos de vida.
Em suma, o ciclo que agora se encerra sob a liderança de Carlos Carreiras deixa um legado de progresso e transformação visível, mas também um conjunto de desafios estruturais que exigem respostas arrojadas, inclusivas e sustentáveis. A juventude é, sem dúvida, o mais promissor recurso do concelho. Compete ao próximo executivo criar as condições que permitam a esta geração viver, trabalhar, crescer e prosperar no lugar que é seu por direito ou por escolha consciente porque a maior riqueza do nosso concelho é a juventude.
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