FESTAS do Mar terminaram por entre críticas e parabéns
CASCAIS– Se para o executivo as Festas do Mar, que terminaram este domingo, voltaram a ser um “sucesso”, para alguns críticos cascalenses estas estão a perder cada vez mais a sua identidade histórica e, este ano, até surgiu um irónico cartaz colocado no cais de aprestos.
“Hoje em dia, nada têm ligado ao mar a não ser a procissão em honra de Nossa Senhora dos Navegantes”, diz, a Cascais24Horas, Marco Borges, um pescador de Cascais, segundo o qual “uma festa que outrora foi dirigida aos pescadores e ao povo de Cascais, com diversas atividades marítimas, hoje em dia não passa de um festival de música e de street food, onde nem a venda de sardinhas existe”.
Nas redes sociais nestes dias em que duraram as Festas do Mar foram muitas as vozes críticas, algumas delas a questionarem no próprio Facebook municipal, como João Cunha: “E para o ano, vamos ter sardinha assada e carapaus? Ou continua só com o fast food?
Porém, uma rápida visualização nas redes sociais do município mostra também um elevado número de cibernautas a parabenizar o evento anual. Teresa Rodrigues, por exemplo, considerou que foi “lindo correu muito bem” e Julinha Santos agradeceu com um “obrigada até para o ano…sempre abrir haja vida e gente feliz nas ruas de cascais”. Também Prazeres do Céu Morais deixou um comentário de agradecimento: “Muito obrigada por tantos concertos e bons momentos com amigos. Até para o próximo ano”.
Ponto alto das Festas, por terra e por mar foi a tradicional procissão em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira dos pescadores de Cascais que, segundo também alguns críticos, “nada tem a ver com outrora”.
A Protetora dos Pescadores
Nelson Fernandes, que elaborou os estatutos da Associação Armadores e Pescadores de Cascais em 1990 e, entre outros cargos, presidiu ao grupo que reativou as festas em honra dos pescadores, relembra a Cascais24Horas como eram celebradas as procissões em honra da padroeira nas “verdadeiras e tradicionais Festas do Mar em Cascais”.
“A Procissão da Nossa Senhora dos Navegantes é uma celebração de fé da comunidade piscatória de Cascais.
Esta devoção e invocação à Nossa Senhora interliga-se com todos os usuários do mar e o seu cariz religioso transparece no dia desta celebração. A população participa e ajuda na recriação desta procissão através das manifestações terrestes e marítimas.
A primeira evidência de culto, em sua honra, remonta à década de 40, do século XX. Por altura da conclusão das obras na Igreja dos Navegantes, em Cascais, nomeadamente das suas torres sineiras e frontão, templo associado aos homens do mar, realizou-se uma procissão no ano de 1942.
Nesta procissão, Nossa Senhora dos Navegantes estabelece-se como protetora dos pescadores de Cascais.
A imagem alusiva a Nossa Senhora dos Navegantes, de autoria dos escultores irmãos Maia, do Porto, representa a Nossa Senhora com o menino no braço esquerdo, com o resplendor carregado de estrelas sobre uma nuvem assente num barco, no qual um pescador se ajoelha perante a imagem e um anjo mantém-se ao leme.
A realização da procissão de Nossa Senhora dos Navegantes teve alguns interregnos, retorna entre 1968 a 1970 e, posteriormente, em 1992 com os festejos do Dia da Marinha.
Mesmo nos anos de 2020 e 2021, que foram atípicos para toda a vivência social, estes eventos decorreram com o seu carácter simbólico da procissão marítima.
A procissão é organizada e reativada após 14 anos de interregno em 1997 pela associação piscatória local, a Associação de Armadores e Pescadores de Cascais com apoio da autarquia através da atribuição de pequenas verbas para enfeitar os barcos e vestuário dos pescadores, assim como para as flores que ornamentam os andores, promovendo-a ainda através da comunicação local.
Apesar de integrar os festejos da vila, a procissão é o momento mais solene destes festejos, associada à prática do sagrado. A data da procissão é determinada pelos elementos da organização e encontra-se dependente da maré, sendo sempre realizada a um domingo.
A escolha das imagens que saem no cortejo é definida conjuntamente, entre a Paróquia de Cascais e elementos da Associação dos Armadores e Pescadores de Cascais, e sorteada anteriormente na Lota de Cascais quais as traineiras que devem de transportar os andores, saindo por ordem cronológica, sempre da imagem mais antiga à mais recente.
Os andores são preparados antecipadamente e as floristas, em conjunto com as peixeiras, ornamentam os andores com flores da época. No dia da procissão toda a cerimónia se reveste de uma religiosidade muito forte e a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes torna-se o centro das atenções, não fosse a ela que os pescadores pedem auxílio nos piores momentos e fazem várias promessas.
Pescadores e peixeiras vestidos a rigor
São também os pescadores que geralmente carregam os andores, vestidos a rigor e descalços, não vestidos com t-shirts como tem acontecido ultimamente, sendo sempre acompanhados por familiares para quando param, lhes colocarem um resguardo nos pés para atenuar o chão quente.
Também as peixeiras envergam neste dia o seu traje tradicional com as suas camisas de seda e lenços aos ombros, saias escuras protegidas pelos aventais bordados e o seu calçado típico. Com início junto à Igreja Matriz de Cascais a procissão sai pela seguinte ordem:
Primeiro a fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Cascais, a Banda da Marinha, a seguir as bandeiras e os estandartes de confrarias e de várias instituições, seguida de grupos de varinas e pescadores adultos e crianças vestidos a rigor, e os andores com todos os santos.
O alinhamento segue com o pálio, onde o pároco transporta a Custódia e o Santíssimo Sacramento, e as representações institucionais, seguida da Filarmónica Sociedade Musical de Cascais e finaliza com o cortejo da população local e demais turistas que se encontram presentes.
A procissão desce a Avenida D. Carlos I até à Praia da Ribeira onde as imagens são transferidas para as embarcações. Estas enchem-se de fiéis para acompanharem o cortejo marítimo. Saem da baía em direção à Guia, de forma serena e emotiva, onde se realiza um dos rituais mais simbólico e marcante desta devoção mariana, para no ato de fé assistirem a uma oração por parte do pároco e prestarem homenagem aos falecidos e invocarem as suas preces profissionais e familiares.
A Marinha honra-nos com a presença de uma fragata ancorada em frente da Baía nos quatro dias das festas. Participa com a Banda no percurso terrestre e com seis botes anfíbios dirigidos por fuzileiros que escoltam as imagens na Procissão Maritima
No decurso deste simbolismo são lançadas flores, em forma de coroas ou ramos e manifestavam a sua presença com o tocar das buzinas dos barcos, o momento em (ano 1997) que o senhor Padre Raul e a esposa do falecido Armador/Pescador Henrique Anjos, fazem a bênção e homenagens aos pescadores falecidos.
Após este rito a procissão regressa, pela mesma via, à baía para a realização de uma bênção, professada pelo pároco. O cortejo regressa à igreja matriz e ao seu adro para que a população ultime as promessas e as devoções. Findo o ritual, as flores que ornamentavam os andores são distribuídas pela população. As imagens são retiradas das padiolas e regressam ao interior da igreja.
O Senhor Padre Raul faz a bênção do mar, tendo à direita o principal impulsionador da Associação Armadores e Pescadores de Cascais. O meu querido e saudoso amigo, Armador António da Fonseca Jorge, (ambos que infelizmente já cá não estão entre nós, mas que de certeza descansam em paz), que me convidou para fazer os Estatutos e registarmos no Cartório de Cascais a Associação, despesas que foram pagas com o nosso dinheiro e que mais tarde prescindimos de as receber como consta numa ata da Assembleia Geral.
Como fundadores estiveram presentes os Armadores António da Fonseca Jorge, Nelson Fernandes, Armadores/pescadores, António Matias de Carvalho, Nita e o pescador Manuel Trabulo”.
(Notícia publicada às 18h47)
1 Comment
Festas do Mar 2024
Bom dia
Estou completamente de acordo com Sr. Nelson Fernandes, porque as Festas de agora nada têm a ver com as que aconteciam anteriormente.
Acho que Associação dos Pescadores devia de voltar a insistir em ter uma barraca-restaurante como antigamente com as taõ desejadas sardinhas,e já agora carapaus.
Em relação á Procissão sim eu também tenho notado algumas diferenças que só faz com que já não seja um momento de emotivo e de respeito, com aqueles jovens a gritar que não aguentam o peso do andor e os andores parecem que vão ali a dançar de um lado paro outro.
Cumprimentos
Manuela Pires