
FAMÍLIA PINTO BASTO EM CASCAIS. HISTÓRIA DA REAL VILA E DA VIDA DE VÁRIAS GERAÇÕES DE EMPRESÁRIOS

Ao comprar este cartão criativo, em dupla pagela, foi com a consciência de que ele me permitiria escrever acerca de dois ou três aspectos distintos, igualmente enquadráveis nos temas de que habitualmente trato nos meus blogues.
Em primeiro lugar, o grafismo apresenta algo que me era familiar, e fazia recordar os materiais publicitários dos primórdios do turismo, nos tempos do Estado Novo, e que permitiram revelar alguns dos mais distintos designers dos anos 30 a 60: Almada Negreiros, Jorge Barradas, Abel Manta, Thomaz de Mello, Bernardo Marques, Cottinelli Telmo, Carlos Botelho, Roberto Araújo, Hogan, Sebastião Rodrigues…
De facto, muitos dos mapas e roteiros da cultura portuguesa que eram distribuídos pelo SNI tinham a assinatura do mesmo Mário Costa que é o autor deste Roteiro Pinto Basto.
Trata- de um grande vitrinista e aguarelista de tipo figurativo que viveu de 1902 a 1975, e foi talvez o mais famoso artesão da Oficina de Vitrais e Mosaicos de Arte Ricardo Leone, de que algumas pessoas se recordarão num dos extremos da Rua da Escola Politécnica, logo do lado direito para quem saía do Largo do Rato.
Outro aspecto interessante neste cartão é o facto de, além das casas propriedade de vários membros da Família Pinto Basto, as contextualizar entre as que já eram, à época, algumas das referências visuais e paisagísticas mais importantes da Real Vila: Praias da Conceição, da Rainha e do Peixe, Estação Ferroviária, Cidadela, Parque Marechal Carmona, Farol da Guia, Boca do Inferno, Museu do Conde de Castro Guimarães e jardim do Visconde da Luz.
Tive também a possibilidade de recordar o papel que elementos desta família tiveram na vida desportiva portuguesa e cascalense: para a História, ficou registado que o primeiro jogo de futebol realizado no nosso país aconteceu em 1888, nos terrenos da Parada, organizado precisamente por Guilherme Pinto Basto, que tomara contacto com essa nova modalidade quando permanecera em Inglaterra a estudar no Colégio Downside.
E a ligação da sua família ao desporto está traduzida nos numerosos descendentes que se distinguiram em diversíssimas modalidades, desde o ténis, a vela, o automobilismo, o golfe, a esgrima e o atletismo. Alguns constam mesmo dos rankings dos campeões nacionais de ténis, esgrima, atletismo e vela.
Foi devido a essa projecção que tanto distinguiu Cascais, mas principalmente ao papel pioneiro na implementação do desporto-rei no nosso país, que, anos mais tarde, o seu nome foi dado em 2005 ao Pavilhão do Grupo Dramático e Sportivo de Cascais. Algo que me toca particularmente, pois não só joguei andebol e futebol de salão muitas vezes nesse pavilhão, como fui presidente- interino e vice-presidente do Dramático entre 1981 e 1984.

Ainda quanto às ilustrações deste Roteiro, muitas delas ainda hoje reconhecíveis nos bem delineados esquissos, chamo especialmente a atenção para a casa no nº 25 da Rua do Visconde da Luz, que se pensa ter sido a primeira morada da família em Cascais, e para a chamada Villa d’Este, na Estrada da Boca do Inferno, cedida pela Família Pinto Basto em 1950 para residência da família real italiana, que assim se exilou no nosso país.
E, inevitavelmente, uma última referência deve ser feita ao facto de esta família já ter ultrapassado os 250 anos de envolvimento ao mais alto nível na actividade empresarial, sendo a criação da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre em 1824, aquela que mais projecção lhe granjeou. Tal como muitos dos meus contemporâneos se lembrarão bem da sede da companhia.
E Pinto Basto no Cais do Sodré, e dos seus enormes letreiros, ocupando todo o piso inferior do edifício que fora no século XIX o do Grande Hotel Central, “personagem” omnipresente de alguns romances de Eça de Queirós.
No tempo em que também trabalhei ligado a negócios de navegação, ainda lá fui algumas vezes tratar de assuntos relacionados com as várias e importantes representações que a E. Pinto Basto & Cª Lda. mantinha em exclusivo.
*NELSON FERNANDES recorda em Cascais24Horas duas vezes por semana factos e curiosidades que marcaram outrora Cascais e fazem parte da história de esta vila de reis e pescadores.
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