
Cascais: Renovar o Futuro ou Prolongar o Passado?

Com as próximas eleições autárquicas, Cascais enfrenta um momento decisivo: continuará sob a liderança da coligação Viva Cascais ou assistirá a uma renovação política essencial para a modernização e equilíbrio do concelho? O fim do ciclo da coligação liderada por Carlos Carreiras é inevitável. Após mais de duas décadas de governação, agora no final do seu último mandato, é necessário avaliar criticamente os impactos da sua gestão e refletir sobre a urgência de uma nova visão para o concelho.
A governação de Carlos Carreiras foi marcada pelo seu carisma, afirmação pessoal e por um forte investimento em infraestruturas emblemáticas, como o Aeródromo de Cascais, a Nova SBE, a requalificação de escolas e a expansão da rede de ciclovias. Contudo, estas intervenções, apesar de visualmente impactantes, não solucionaram problemas estruturais profundos. A rede viária continua congestionada e desajustada às necessidades da população, a pressão urbanística sobre os centros históricos e áreas protegidas intensificou-se, e a falta de uma política eficaz de habitação acessível tornou Cascais um concelho cada vez mais elitizado. O modelo de crescimento seguido assentou numa lógica expansionista que favoreceu o setor imobiliário, mas negligenciou o equilíbrio sustentável do território e a qualidade de vida dos residentes.
Como alternativa a este modelo, é imperativo adotar um desenvolvimento baseado na inclusão, na sustentabilidade e na preservação do património histórico e ambiental. Durante a sua última governação, o PS Cascais implementou projetos estruturantes que consolidaram a identidade e a dinâmica do concelho, como a Marina, a requalificação do paredão, o Centro Cultural de Cascais, o Clube Naval, o Centro de Congressos do Estoril, o Complexo Multisserviços da Adroana, entre muitos outros. Estes investimentos demonstraram que é possível conjugar crescimento económico, valorização cultural e respeito pelo ambiente, sem cair numa lógica predatória que compromete a identidade do território.
A verdadeira cultura em Cascais foi negligenciada de forma clara. A extinção do pelouro da cultura e a entrega da sua gestão a uma fundação, que não tem cumprido com a exigência de uma política cultural genuína e acessível, empobreceu o concelho em termos intelectuais e sociais. A cultura não pode ser tratada como um produto turístico ou um adereço para elites. A sua função fundamental deve ser a de promover a identidade do povo, garantir acesso universal e fomentar o desenvolvimento intelectual. A falta de uma política cultural inclusiva comprometeu a capacidade de Cascais em cultivar uma verdadeira vida cultural, essencial para o enriquecimento social e para o fortalecimento da coesão da comunidade.
Os centros históricos, em particular, representam um desafio crucial para a futura governação. São espaços de forte atratividade turística e económica, mas a pressão urbanística crescente ameaça descaracterizá-los e comprometer a sua função social. A transformação da antiga Pensão Parsi, do Edifício do Cinema Oxford e do Hotel Cidadela são parcos exemplos, bem claros, de um modelo que privilegia a especulação imobiliária em detrimento da preservação do tecido social local. A revitalização dos centros históricos deve passar por políticas que promovam a habitação acessível, a manutenção de serviços públicos essenciais e um planeamento urbanístico que respeite o equilíbrio entre comércio, turismo e qualidade de vida dos residentes. O novo Centro de Saúde de Cascais representa um avanço importante para a valorização da área, mas o destino do terreno do antigo Hospital de Cascais continua incerto, o que levanta preocupações sobre uma eventual cedência a interesses imobiliários privados.
Neste contexto, as eleições autárquicas representam uma oportunidade para reverter um modelo de governação esgotado e substituí-lo por uma política progressista, transparente e centrada nas reais necessidades da população. Cascais não pode ficar refém de uma visão conservadora e expansionista; precisa de um compromisso com o desenvolvimento equilibrado, sustentável e inclusivo, onde a qualidade de vida dos cidadãos esteja no centro das decisões políticas. A renovação autárquica é essencial para garantir que Cascais continue a ser um concelho dinâmico, inovador e acessível para todos.
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