26 de April, 2025
A desinformação mediática e os riscos para a democracia
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A desinformação mediática e os riscos para a democracia

Abr 14, 2025

Em abril, mês em que se celebra o dia 25 e os valores que lhe estão associados, como a liberdade, a justiça e a democracia, importa refletir sobre o estado da comunicação social em Portugal e o seu papel na degradação do debate público. A liberdade de imprensa, essencial à democracia, não pode ser confundida com irresponsabilidade editorial ou com manipulação de opinião.

O chamado “caso Hilton”, ocorrido em Cascais, é elucidativo. Apesar das buscas levadas a cabo pela Polícia Judiciária, o presidente da câmara tem reiteradamente prestado esclarecimentos públicos, sustentados por documentos e factos. Ainda assim, certos meios de comunicação social optaram por amplificar acusações, sem assegurar um contraditório rigoroso. Esta tendência, ao dar palco à denúncia sem ponderação factual, contribui para um fenómeno perigoso: o descrédito da justiça e, com ele, o enfraquecimento da confiança cívica num poder independente e essencial ao Estado de direito democrático.

Este tipo de atuação levanta sérias dúvidas quanto à imparcialidade e à ética dos meios de comunicação, em especial quando provenientes do serviço público. A título de exemplo, um conhecido jornalista de um canal público conduziu recentemente uma entrevista ao Secretário-Geral do Partido Comunista Português com evidente hostilidade. Será este o exercício de um jornalismo crítico ou uma tentativa de humilhar politicamente os entrevistados? Quando se recorre à agressividade como método de inquirição, perverte-se o papel do jornalismo e corrompe-se a esfera pública.

Não é só a imprensa que tem responsabilidade nesta degradação democrática. Os próprios atores políticos contribuem para o clima de desinformação, recorrendo aos meios de comunicação, tradicionais e digitais, como ferramentas de luta partidária, e não como espaços de esclarecimento público. Esta instrumentalização não visa o bem comum, mas sim objetivos pessoais e eleitorais. É uma forma de política suja, sem ética nem princípios, que apenas aprofunda o divórcio entre cidadãos e representantes eleitos.

O PSD, recentemente alvo de casos mediáticos que afetaram alguns dos seus protagonistas, tem-se manifestado com veemência contra os julgamentos na praça pública. Compreensível e legítimo. Porém, importa lembrar que esse mesmo partido promoveu, noutros momentos e mais recentemente, campanhas similares contra personalidades do Partido Socialista. A coerência democrática exige uma condenação transversal desta prática, independentemente das cores partidárias. Todos perdemos quando o debate político é substituído por insinuações e linchamentos mediáticos.

A verdade é que os media, aliados a sectores políticos oportunistas, têm contribuído para o crescimento de discursos extremistas e para a erosão dos valores democráticos. Sob o pretexto de informar, espalha-se a suspeição. Sob o disfarce da isenção, oculta-se a intenção política. Esta prática mina a democracia de dentro para fora, corroendo a confiança nas instituições, desqualificando a política e desinformando os cidadãos.

É urgente recentrar o papel dos media no espaço público e responsabilizar todos os que nele intervêm. A liberdade de expressão exige, mais do que nunca, responsabilidade democrática. E a política, se quiser ser digna desse nome, não pode continuar a alimentar-se da mentira, da manipulação e do populismo. O mundo que conhecemos, livre, plural e fundado no respeito mútuo, não sobreviverá se deixarmos que o discurso público continue a ser capturado pelo escândalo, pela raiva e pelo oportunismo.

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