
Cascais merece mais. Renovar com responsabilidade é um dever democrático

Depois de mais de duas décadas de governação ininterrupta pelas mesmas forças políticas, as eleições autárquicas de outubro assumem uma importância inegável. Está em causa a capacidade de Cascais reencontrar o sentido da renovação democrática. É tempo de pensar o futuro do concelho com responsabilidade, sem ceder ao ruído fácil do populismo nem às promessas vãs de ocasião.
Com a apresentação oficial das candidaturas partidárias e independentes às eleições autárquicas de 2025, impõe-se uma reflexão crítica sobre o que verdadeiramente está em jogo para o futuro coletivo do município. A conjuntura atual exige uma avaliação rigorosa das propostas em presença, à luz das necessidades estruturais e dos desafios emergentes.
Cascais encontra-se numa fase de crescimento visível e diversificado. Contudo, a longevidade do poder executivo local, em funções há mais de vinte anos, reclama um novo fôlego político. Essa renovação, necessária e desejável, não deve ocorrer sob a forma de ruturas simplistas ou retóricas inflamadas, mas sim através de uma transição responsável, assente em propostas consistentes, exequíveis e estruturalmente coerentes. É amplamente reconhecido que as soluções de natureza populista, embora sedutoras à primeira vista, tendem a ocultar a complexidade dos problemas e a fragilizar os alicerces da governação democrática. Como já escrevi diversas vezes, as vozes populistas propõem soluções fáceis para problemas complexos.
Entre as diversas candidaturas anunciadas, duas evidenciam-se pela sua maturidade política e pela solidez das suas propostas. A coligação Viva Cascais, liderada pelo atual Vice-Presidente da Câmara Municipal, Nuno Piteira Lopes, constitui uma continuidade com experiência acumulada na gestão autárquica. Em oposição, a candidatura Dar Sentido a Cascais, encabeçada por João Ruivo, Presidente da Concelhia do Partido Socialista de Cascais, propõe uma alternativa, um novo folego responsável, sustentado por uma visão estratégica de longo prazo e imune a soluções fáceis ou discursos populistas e com capacidade de gestão autárquica.
A existência de propostas alternativas credíveis é indispensável ao pleno funcionamento de qualquer democracia. Por essa razão, os cidadãos devem permanecer atentos e exigentes perante programas eleitorais que prometem transformações rápidas sem fundamentação técnica ou económica adequada. A promessa fácil é, frequentemente, um subterfúgio para a ausência de conteúdo político substantivo.
No que diz respeito às denominadas candidaturas independentes, importa interrogar o próprio conceito de independência política. Em rigor, a neutralidade absoluta não existe na esfera pública. A ação política define-se, inevitavelmente, pela tomada de posição, pela escolha consciente entre prioridades e caminhos diversos. Nenhum agente político é verdadeiramente “independente” no sentido absoluto do termo. Todos fazemos escolhas. Todos participamos, de uma forma ou de outra, na construção do espaço político.
A célebre máxima aristotélica que define o ser humano como um “animal político” mantém, ainda hoje, plena atualidade. Conforme referia Aristóteles na Política, o indivíduo realiza-se apenas no seio de uma comunidade organizada, sendo a vida pública condição essencial da sua natureza social e racional (Aristóteles, s.d./2007)[1]. A política, enquanto exercício deliberativo de construção do bem comum, atravessa todos os domínios da vida social.
Mesmo nos gestos mais quotidianos, como a escolha de um produto num supermercado, realizamos atos que exprimem preferências e opções com implicações económicas, sociais, ambientais e políticas. Em suma, fazemos política. Esta dimensão omnipresente da política reforça a necessidade de um debate informado, participado e eticamente exigente.
Com as eleições de outubro no horizonte, Cascais necessita de um projeto de governação renovado, alicerçado na responsabilidade, na inovação democrática e na escuta ativa das comunidades locais. Compete ao eleitorado distinguir entre promessas vãs e propostas consistentes, contribuindo, através do seu voto consciente, para a edificação de um concelho mais coeso, inclusivo e preparado para os desafios da próxima década. Porque é disso que se trata, de liberdade, de escolha e de democracia viva. E, acima de tudo, de respeitar o futuro de Cascais.
[1] Aristóteles. (2007). Política (M. Cruz, Trad.). Fundação Calouste Gulbenkian. (Obra original escrita no século IV a.C.)
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