Terminal Rodoviário em Cascais: Um Passo Atrás?
A inauguração do novo terminal rodoviário no centro da vila de Cascais representa um retrocesso significativo para os munícipes. Apesar de anunciado como uma solução moderna e eficaz, esta infraestrutura revela-se insuficiente e mal planeada, comprometendo a mobilidade e a imagem de um concelho reconhecido internacionalmente pela sua qualidade de vida e organização urbana.
Recordemos o objetivo original da criação do antigo terminal no Centro Comercial Cascais Vila: remover os autocarros do Largo da Estação e reorganizar o tráfego na área central da vila. Contudo, o novo terminal não comporta a totalidade dos autocarros que servem Cascais, levando ao regresso de várias carreiras ao Largo da Estação. Esta situação não é aceitável, considerando que um terminal rodoviário deve ser projetado para acolher todos os serviços rodoviários de forma eficiente e integrada.
Por exemplo, antes da inauguração do novo terminal, o Largo da Estação já acomodava os autocarros M39, M43 e M44. Agora, devido à incapacidade do novo terminal, juntam-se a estes os autocarros M04, M05, M09, M15, M27 e M34, enquanto os restantes (M02, M06, M07, M08, M11, M12, M13, M14, M17, M18) foram redirecionados para o novo terminal. Esta dispersão de paragens gera confusão para os utilizadores e compromete a eficiência do sistema de transportes.[1]
A solução encontrada para o terminal foi claramente apressada e desprovida do planeamento a longo prazo necessário para uma infraestrutura desta importância. Trata-se de um equipamento que deveria servir a população e os visitantes por décadas, e não uma estrutura temporária concebida para resolver uma urgência pontual. A falta de capacidade para acomodar todos os autocarros, bem como as limitações geométricas e operacionais do espaço, são consequências diretas dessa falta de visão estratégica.
Como bem reconhecem os especialistas na área, “as características funcionais são essenciais para que se garanta um adequado nível de conforto e serviço prestado, tanto para os utilizadores como para os operadores”. Um terminal rodoviário deve incluir:
- Áreas de chefia e gestão do terminal;
- Bilheteiras e zonas de venda automática;
- Espaços de serviço aos passageiros, como cafetarias, áreas de espera, casas de banho e zonas comerciais;
- Infraestruturas adequadas para os volumes atuais e futuros de passageiros, além de preparação para inovações tecnológicas e logísticas.[2]
O novo terminal de Cascais, infelizmente, falha em vários destes aspetos, não cumprindo os padrões necessários para uma infraestrutura moderna e eficiente. Este fracasso é ainda mais grave quando se considera o elevado custo associado à conceção e construção de terminais rodoviários. Uma decisão mais cuidadosa e bem fundamentada teria evitado esta situação.
Defendo que o Município de Cascais deveria ter assumido a aquisição do edifício do “Cascais Vila”, mantendo o estacionamento subterrâneo para uso dos munícipes. Esta solução não apenas garantiria uma fonte de receita, mas também permitiria a construção de um terminal rodoviário digno, perfeitamente integrado com a estação ferroviária e em linha com a reputação internacional de Cascais. Tal infraestrutura seria um verdadeiro exemplo de planeamento urbano e mobilidade sustentável, além de um contributo significativo para o bem-estar dos munícipes e visitantes.
O novo terminal, como se apresenta, é uma oportunidade perdida, mas ainda há tempo para corrigir o rumo. Cascais merece mais. Merece um terminal à altura das suas necessidades e ambições. Cabe ao Município tomar a iniciativa e demonstrar visão estratégica para garantir um futuro mais funcional e harmonioso para todos.
[1] Fonte: https://mobi.cascais.pt/geral/autocarros-municipais-horarios-percursos (2024)
[2] Fonte: ALPUIM, Filipe (2009)
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1 Comment
É ver a balbúrdia que foi fazer e desfazer o aborto que é o terminal:
Gastam-se milhões em disparates (Veja-se a Av. 25 de Abril) e poupam-se tostões com o que devia ser comprado, o “Cascais Vila”!
Enfim, a solução é correr com esta gente da Câmara!